segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Paraense do Acará foi pioneiro nos estudos que permitiram o homem voar

“Senhoras e senhores, sejam bem-vindos a Belém. Em instantes, pousaremos no Aeroporto Internacional Júlio Cezar Ribeiro de Souza”. Para que os passageiros ouçam essa mensagem no avião ao chegarem à capital paraense é preciso que um projeto de lei seja aprovado no Congresso Nacional. Mas, se isso acontecer, soará estranho para alguns que vão se perguntar: “Quem é esse Júlio César?”.
O maior sonho de Júlio Cezar Ribeiro de Souza era ver Belém do alto. Isso no tempo em que botar os pés na capital da Amazônia era o sonho de muita gente. Ele é considerado o autor da primeira tentativa de desenvolver um projeto de balão dirigível no Brasil. A angústia de Júlio por não conseguir voar foi digna de um romance.
Júlio Cezar nasceu em 1847 e veio do município ribeirinho do Acará para estudar no Seminário do Carmo, em Belém. Percorreu o caminho que muitos jovens do interior da Amazônia fazem até hoje. Chegou de barco em um dos portos da capital, que começava a sentir os efeitos da era da borracha. Do seminário, partiu para a Escola Militar no Rio de Janeiro em 1862. Ele foi poeta, escritor, jornalista, professor, servidor público conceituado e soldado na guerra do Paraguai. Mesmo assim, queria voar mais alto - literalmente.
Em 1866, ao concluir o curso na Escola Militar no Rio de Janeiro, Júlio Cezar seguiu para Montevidéu, no Uruguai, onde integrou as forças militares brasileiras na Guerra do Paraguai. A situação, que parecia um pouso forçado na carreira do paraense, foi um marco para o resto de sua vida: foi durante a guerra, em 1867, que houve o primeiro uso militar de balões de observação na América do Sul.
Anos depois de transformar sua paixão pelos balões em teorias, Júlio Cezar publicou um trabalho sobre dirigibilidade aérea em 1880. Em 29 de julho do mesmo ano, começou a batalha para expor e provar as suas pesquisas. Solicitou audiência com representantes da então província do Pará e realizou experimentos com pequenos balões. Tentou inflar um maior ainda, porém o gasômetro da cidade não produziu gás suficiente para o experimento. Com isso, ele decidiu buscar patrocínios para alçar um novo vôo – desta vez, a França era seu destino.

Franceses plagiaram obra do inventor

Na cidade de Paris, em novembro de 1881, Júlio Cezar levantou o balão “Victoria” de dez metros de comprimento e dois de diâmetro. Após a experiência, o inventor foi aclamado pela imprensa parisiense e se tornou membro da Sociedade Francesa de Navegação Aérea. Depois, Júlio volta a Belém em busca de financiamento para as suas experiências e deixa uma encomenda na casa Lachambre: a construção de um grande dirigível que seria capaz de realizar o sonho de muitos homens – voar.
De volta ao Pará, no Natal de 1881, Júlio Cezar repetiu os experimentos com o balão “Victoria”. A imprensa de Belém ficou entusiasmada. Em 29 de março de 1882, o paraense foi mais uma vez ao Rio de Janeiro, onde apresentou o “Victoria” a um grande público na Escola Militar. Um dos espectadores era o imperador Dom Pedro II, que era fascinado por ciências e tecnologia e poderia ser o motor definitivo para o inventor cruzar o céu brasileiro. Após a conclusão da construção do grande dirigível, que se chamava Santa Maria de Belém, Júlio Cezar o trouxe para a capital paraense. Em 1884, tentou realizar o experimento na terra natal, no bairro da Cidade Velha, mas fracassou: ele não conseguiu encher o balão com os três milhões de litros de hidrogênio necessários para levantar o vôo.
Além do fracasso, ainda viu sua obra ser plagiada pelos irmãos franceses Charles Renard e Arthur Krebs. O vôo do “La France” foi realizado em 9 de agosto de 1884. Os dois foram apoiados por militares franceses que negligenciaram a patente reconhecida três anos antes, na própria França, em favor de Júlio Cezar. Indignado, o inventor paraense escreveu o artigo “A Direção dos Balões” divulgado pela imprensa paraense e encaminhado ao Instituto Politécnico Brasileiro. Foi assim que Júlio começou mais um vôo, dessa vez, em busca do reconhecimento perdido. Só que ele morreu em 1887, sem conseguir essa façanha, e ficou esquecido na História do Pará.

Primeiro projeto sobre o assunto é de 1959

Quem iniciou o levantamento sobre os projetos e a trajetória do inventor foi o pesquisador Fernando Medina do Amaral, já falecido, que estudou a vida de Júlio Cezar por 25 anos. O físico Luís Bassalo Crispino, professor doutor da Universidade Federal do Pará (UFPA), deu continuidade aos estudos de Fernando e lançou um livro sobre a vida do inventor em 2003. A partir disso, ele passou a divulgar a biografia de Júlio Cezar para estudantes, pesquisadores, veículos da imprensa e revistas científicas.
Segundo Crispino, a intenção parlamentar de batizar o Aeroporto Internacional de Belém de “Júlio Cezar Ribeiro de Souza” já existe desde 1959, quando o senador paraense Lobão da Silveira, que era jornalista, criou um projeto de lei (PL) com esse objetivo. A matéria foi arquivada no mesmo ano por motivos desconhecidos. Até hoje, o PL ainda pode ser visto na página do Senado Federal.
Só nos anos 80, Júlio Cezar foi homenageado com uma medalha comemorativa no governo de Alacid Nunes e um medalhão que está na praça da Bandeira, no bairro do Comércio. “Também houve a denominação do aeroporto de pequeno porte. Aí a coisa ficou meio difícil, porque como já existe um aeroporto com nome dele, o internacional não poderia ter”. De acordo com Crispino, a solução seria batizar o aeroporto pequeno de “Brigadeiro Protázio Lopes de Oliveira” e o maior de “Júlio Cezar Ribeiro de Souza”.
Foi o próprio Crispino que mandou a sugestão do projeto para a então senadora Ana Júlia Carepa. O PLS 326/2005 foi aprovado no Senado Federal e chegou à Câmara dos Deputados como PL 410/2007. Como manda o regimento da Casa, foi aprovado pela Comissão de Viação e Transportes e também pela Comissão de Educação e Cultura. Mas quando chegou à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), no dia 19 de março deste ano, foi retirado temporariamente de pauta. O motivo: na lista de projetos para serem aprovados havia um que pedia que o Aeroporto Internacional de Belém se chamasse Rômulo Maiorana, empresário pernambucano morto em 1986.
Fonte: Diário do Pará

sábado, 3 de janeiro de 2009

Fidel é papa chibé?

Fidel, um brasileiro?

Pesquisadores afirmam que o ditador cubano teria nascido em Tracuateua, no Pará. Políticos locais já querem mudar o nome da cidade para Fidelândia
Ángel Castro, um espanhol bem-apessoado, chegou a Tracuateua, no Pará, no início da década de 20. Naquela pequena vila da região amazônica, onde trabalhou como barqueiro, ele conheceu Delphina Smith, uma descendente de alemães, com quem se casou e teve um filho chamado Fidel. A família se mudou para Iquitos, na região amazônica do Peru, e sua trajetória se perdeu no tempo. Décadas depois, aquele mesmo menino, transformado em um homem corpulento e barbudo, liderou um grupo de guerrilheiros em Sierra Maestra, derrubou o ditador Fulgencio Batista e implantou uma revolução socialista em Cuba.

Ángel Castro


Essa inusitada versão é levada a sério por um grupo de pesquisadores paraenses. A história corre de boca em boca na região há décadas. Dagoberto Smith, irmão de Delphina, ainda vive na zona rural de Tracuateua. Diz ter 100 anos e está lúcido, embora com a memória embaralhada. Jura que guarda em casa cartas enviadas pela irmã e algumas poucas fotos em preto e branco do sobrinho famoso. Durante muito tempo, com medo de repressão do governo militar brasileiro, ele se recusou a mostrar esse material e a conversar sobre o assunto. Homem matuto e desconfiado, vai aos poucos perdendo o receio. Dagoberto conversou na semana passada com um repórter do jornal La Vanguardia, de Barcelona, na Espanha. Também gravou um depoimento para um documentário dirigido pelos historiadores Dantas e Jesse Feitosa, pai e filho. Outro historiador, Edilson Silva de Oliveira, está reconstituindo a história da família Castro paraense. Meses atrás ele deu uma entrevista sobre o tema à rádio Pérola, de Bragança. Depois disso, mais de três dezenas de ouvintes entraram em contato com a emissora para dar outros detalhes de velhos casos contados por seus pais e avós.
A história oficial do ditador cubano é contada pela pesquisadora carioca Claudia Furiati, autora de sua única biografia autorizada. Ela passou quatro anos em Havana e teve acesso a inúmeros documentos, entre eles duas certidões de Fidel. A primeira aponta o nascimento dele no dia 13 de agosto de 1927 e foi lavrada na província de Cueto, em Cuba. A segunda, com uma data posterior, foi acertada com o juiz da comarca para que o aplicado estudante passasse uma série na frente dos colegas de classe. De acordo com essa versão, Ángel Castro era um jovem soldado espanhol quando foi enviado a Cuba para lutar na Guerra da Independência, no fim do século XIX. Depois retornou à terra natal, mas por pouco tempo. Logo voltou à ilha. O ex-soldado trabalhou como operário da construção civil, comprou terras e enriqueceu. Casou-se pela segunda vez com Lina Ruz González, uma camponesa que trabalhava para ele. Fidel foi o terceiro dos seis filhos do casal e recebeu esse nome em homenagem a um amigo e sócio de Ángel.


Claudia Furiati, não concorda com a versão paraense


Logo depois do lançamento do livro, Claudia foi procurada por Sandro Castro, um paraense que se dizia sobrinho de Fidel. "A história me pareceu interessante, mas muito fantasiosa", conta. "Não bate com os documentos que pesquisei. Pode se tratar de uma coincidência de nomes, de um parente ou mesmo de uma parte obscura da trajetória de Ángel Castro. Não existem registros de passagens dele pelo Brasil, mas isso pode ter acontecido."
A suposta família paraense do ditador cubano é numerosa. Delphina, a mãe de Fidel na versão amazônica, tinha um irmão, Pedro Smith, já falecido. Sua esposa, Isaura Smith, conhecida na região como Lili, ainda vive. Esses "parentes" contam passagens tão épicas quanto inverossímeis, com datas e percursos imprecisos. No Peru, Ángel e Delphina teriam se separado. O aventureiro espanhol teria vagado por alguns anos pela América Latina. Quando soube que o filho estava internado em um colégio religioso, teria voltado ao Peru, para raptá-lo e levá-lo a Cuba.

Fidel Castro

Uma vez no poder, Fidel teria despachado Ernesto Che Guevara ao Pará para apagar os vestígios de sua origem brasileira - sabe-se lá por quê. Ele teria sido responsável pelo incêndio que destruiu centenas de documentos no cartório de Santa Maria da Foz do Tauari, no município de Gurupá, nos anos 60. Che esteve realmente no Brasil nessa época, mas para receber a ordem do Cruzeiro do Sul das mãos do presidente Jânio Quadros. Não há registros de passagens pelo Pará. Lício Viana, um caminhoneiro de Tracuateua, no entanto, jura que chegou a dar carona a Che. Os pesquisadores querem comparar amostras de DNA da família Smith com as do líder cubano. Procurada por ÉPOCA, a Embaixada de Cuba no Brasil não quis se pronunciar sobre o assunto. Sem tanta preocupação com a veracidade dos fatos, políticos paraenses planejam erguer estátuas de Fidel e apresentar em breve um projeto de lei para mudar o nome de Tracuateua para "Fidelândia". "Seria uma homenagem à origem brasileira de Fidel e um impulso ao turismo local", diz o deputado João de Deus - coincidentemente, do Partido Socialista Brasileiro.


Retirado da Revista Época

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Fafá de Belém canta Chico Buarque


Uma sugestão musical, o cd "Tanto Mar" de Fafá de Belém. No Disco Fafá interpreta algumas músicas de Chico Buarque, tais como "As vitrines", "Olhos nos olhos", "Bastidores", "Com açúcar, com afeto", uma versão em francês para "Terezinha" (Dans Mon Couer) e muitos outras.
Vale a pena conferir!


sábado, 27 de dezembro de 2008

Mandante da morte de Irmã Dorothy é preso por grilagem de terras

Acusado de ser o mandante do assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang, o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, o "Taradão", foi preso ontem à tarde pela Polícia Federal (PF), em sua casa em Altamira. A prisão preventiva, ordenada pelo juiz federal Antonio Carlos de Almeida Campelo, foi pedida pelo Ministério Público Federal (MPF), após a descoberta de que ele estava novamente tentando tomar posse do lote 55, em Anapu (PA).

Dorothy Stang, morta em 2005

O lote em questão é uma área de três mil hectares, que foi grilada por Taradão no final dos anos 1990 e pela qual um grave conflito fundiário se instalou, culminando com a morte da freira, em fevereiro de 2005. Dessa vez, as acusações são de grilagem e estelionato. "Desde a absolvição, as autoridades que acompanham o caso já temiam que recomeçassem as pressões sobre os assentados.
A atitude de Galvão, de voltar ao local do crime e mais uma vez se dizer proprietário das terras públicas exige a intervenção imediata do Judiciário", disse o procurador da República Alan Mansur Silva. Ainda de acordo com a procuradoria, o fazendeiro chegou a ficar preso durante mais de um ano, mas foi solto em 2006 por um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF), aguardando o julgamento em liberdade até o momento.
"É preciso máximo rigor com os conflitos fundiários, porque são a causa de tragédias como a morte da irmã Dorothy", declarou Felício Pontes Júnior, procurador da República. Segundo a procuradoria, após a prisão do fazendeiro, o inquérito da PF que investiga a grilagem pode originar um processo criminal do MPF contra Galvão. Ele pode ficar preso até o fim desse processo.
Além da acusação pela morte de Dorothy Stang, o fazendeiro já responde a outras ações judiciais, por trabalho escravo, crimes ambientais e fraudes contra a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). (Com informações do G1)

Retirado do Diário do Pará no dia 27/12/2008

Dicionário Papa-Chibé


Aí vai algumas expressões do nosso povo, da nossa gente:

ÉGUA: vírgula do paraense, usada entre mil de mil frases ditas, e com essa expressão, ele não tem a menor chance de errar nas concordâncias...
LEVOU O FARELO! - se deu mau!
PITIÚ - cheiro de característico de peixe, você consegue sentí-lo com maior intensidade no VER-O-PESO, cheiro de ovo também é pitiú.
SÓ-TE-DIGO-VAI! - expressão usada pelas Mães pra chamar a atenção dos filhos quando não as obedecem!
TE ACOCA - te abaixa.
MUITO PALHA! - muito ruim!
TUÍRA - pó da pele de quem não toma banho direito! rsrs (essa é boa!).
MAIS-COMO-ENTÃO? - "me explique por favor!
"BORA LOGO! - se apresse!
BORIMBORA! - vamos embora
"MAS QUANDO!" - "você está mentindo!".
"EU CHOOORO!!!"- significa " não tô nem aí pra tí!, te vira!, dá teu jeito!".
"OLHA QUE O PAU TE ACHA!" - toma cuidado!.
FILHO DUMA EGUA - filho da mãe;
E-GU-Á - Poxa vida!!!
PAI D'EGUA: - Excelente
MAS CREDO - sai fora
OLHA JÁ - eh mentira!!
JÁ ME VÚ - tchau
ÊÊÊ...-- quando algo que se conta é mentira
ERAS -- o Eras acompanha tabém todos esses sinonimos
TU ALOPRAS -- você "apela"
HUM TÁ, CHEIROSO! -- hahah eu adoro essa expressão.... "hum...ta bom gatinho, ta bom lindo, ta bom bonito.."é uma forma de ironia, tipo "conta outra!".
UUUULHA - expressão usada por nossas criancas quando querem se referir a algo.
ASSANHADO - Para nossos amigos sulistas, esse adjetivo não quer dizer "ENXERIDO", e sim, seu cabelo está bagaunçado!!
DIACHO - Expressão de desapontamento;

Se "tu" sabe de mais algumas, escreva nos comentários!

As causas da violência na Periferia de Belém


Estudo propõe soluções para a violência por meio de parceria entre poderes e sociedade.

Durante seminário realizado no final de fevereiro, no auditório do Centro de Capacitação da UFPA, o Núcleo de Meio Ambiente da UFPA e o Núcleo de Ação para o Desenvolvimento Sustentável (Poema) apresentaram os resultados da pesquisa sobre violência urbana em Belém do Pará, solicitada pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria Executiva de Planejamento, Orçamento e Finanças. O objetivo da pesquisa foi consubstanciar dados sobre a realidade e servir como insumo para direcionar, consolidar ou ampliar políticas públicas integradas.
Os dados foram apresentados pelos pesquisadores Thomas Mitschein (coordenador), Jadson Fernandes Chaves e Henrique Rodrigues de Miranda. Uma numerosa platéia, formada por pesquisadores, estudantes, comunitários, políticos e administradores estaduais e municipais, assistiu à exposição e participou dos debates. O trabalho dá continuidade à pesquisa "Urbanização selvagem e proletarização passiva na Amazônia: o caso de Belém", iniciada em 1989 por Mitschein e Miranda.
Segundo os pesquisadores, "uma das características do desenvolvimento da região Norte nos últimos 50 anos é um expressivo crescimento de sua população urbana", seguindo uma tendência intimamente ligada às políticas de integração da Amazônia clássica no espaço da economia, implementadas sistematicamente pelo estado nacional a partir da década de 1960. Após um longo período em que pouco avançou em termos demográficos, Belém do Pará registrou um crescimento acentuado entre 1960 e 1980, com incremento populacional de 134%, alcançando, ao final dos anos 80, a marca de 1 milhão de habitantes. O êxodo rural de microrregiões vizinhas, como Bragantina, Baixo Tocantins, Marajó, Salgado, entre outras, contribuía para o aumento populacional e para a crescente demanda por emprego, ocupação e renda, que sobrecarregou a economia da capital.
A pesquisa de Mitschein, Chaves e Miranda mostra que, no caso de Belém, as desigualdades sociais atuam, efetivamente, como fonte da violência urbana. Os pesquisadores consideram óbvio que "as estratégias de contenção da violência urbana passam pela criação de novas perspectivas de sobrevivência, baseadas na multiplicação de ocupação, emprego e renda". No entanto, realçam que, se as opções de ocupação da mão-de-obra desqualificada contribuem para a redução da desigualdade social vigente, elas o fazem de forma lenta. "Altas taxas de crescimento econômico, por mais que possam aliviar a pobreza urbana, não são garantia à constituição de um senso comum que facilite a reprodução pacífica da síntese social", afirmam. "Pelo contrário, esse senso comum precisa ser trabalhado através da construção de uma cultura de paz, que procura solucionar conflitos sociais e pessoais de forma dialógica".
Os autores da pesquisa partem do princípio de que "a cultura de paz tem que ser incentivada sistematicamente, promovendo o diálogo entre os atores das instituições públicas, da sociedade civil e do setor privado em torno daquilo que é o eixo fundamental do 'continente amazônico', isto é, a sua diversidade em termos sociais, culturais e ecológicos".
Assaltos e arrombamentos são os pesadelos da população
As entrevistas realizadas pelos pesquisadores com moradores dos bairros do Guamá, Terra Firme e Bengui e do distrito de Outeiro, na região insular de Belém, apontaram a avaliação que a população faz sobre a violência urbana. Vivendo em bairros periféricos onde a presença do poder público é frágil, essa população está mais sujeita á ação do crime, que vai se organizando em Belém.Assaltos e arrombamentos em residências são os crimes que mais preocupam a população entrevistada. Em torno de 95% delas descrevem esses tipos de crime como um pesadelo. Além de proporcionarem prejuízos materiais consideráveis, como o roubo de bens de consumo comprados a duras penas, eles geram um profundo sentimento de insegurança. O tráfico e o uso de drogas, citados por 75% dos entrevistados representam a segunda causa de preocupação dos moradores. A visão é que ambos facilitam a entrada de jovens, sem perspectivas de emprego e renda, em gangues que praticam as mais diversas formas de vandalismo, entre as quais a destruição do patrimônio, incluindo escolas públicas. Tais gangues, que agem como uma espécie de poder paralelo, competem entre si, ameaçam os moradores e contribuem para o aumento do número de homicídios.Os moradores acham que as formas de atuação da polícia fortalecem o sentimento geral de insegurança nos bairros periféricos. A violência e a corrupção policial foram citadas por 75% dos entrevistados. A principal crítica dirigida contra policiais é a cobrança de propina para recuperação de bens roubados, mas também citam a conivência com infratores que dispõem de recursos financeiros e o tratamento discriminatório, às vezes violento, dispensado à população de baixa renda que procura os seus direitos.Foram também citadas as seguintes manifestações de violência: violência doméstica (55%), Violência sexual (40%), Poluição sonora (30%), homicídios (30%), desrespeito ao idoso (25%), vandalismo (20%), agressões verbais (15%), alcoolismo (10%), racismo (10%), violência física contra crianças e adolescentes (10%), prostituição infantil (5%), discriminação homossexual (5%), entre outras.Falta de trabalho: a causa principalA população também se manifestou em relação às causas locais da violência. Para 75% dos entrevistados, a causa principal da violência na periferia de Belém é a falta de oportunidade de trabalho. A segunda causa, com 65%, é a insuficiência do ensino básico. Com 60% de citação, a falta de saneamento básico ficou como terceira causa de violência. O tráfico de drogas ocupa a quarta posição, com 55% de citações, logo à frente da desestruturação da unidade familiar, que registrou 50%.
Em ordem decrescente foram citadas as seguintes causas, entre outras: a organização popular incipiente, a conivência policial com os infratores, o atendimento insuficiente à saúde, a falta de áreas de lazer e esportes, o descaso da segurança pública, a violência doméstica, a carência de creches, a falta de moradia adequada, a inversão de valores morais e culturais, a discriminação sócioeconômica, a baixa renda familiar, o excesso de proteção legal a menores infratores e a falta de ocupação para os jovens.
Para os pesquisadores, as principais causas apontadas pela população dizem respeito às precárias condições de sobrevivência nos bairros periféricos. Os moradores relacionam violência a questões estruturais, como a falta de saneamento básico, o atendimento insuficiente na área de saúde, as escassas oportunidades de formação profissional e de trabalho e, como conseqüência, as baixas rendas das famílias e as condições precárias de moradia. Segundo os entrevistados pela pesquisa, a atitude mais comum da população ante à violência é uma espécie de inércia coletiva, que faz com que ela evite dar registrar queixa nas unidades policiais. 70% da população, por exemplo, nada fazem diante das agressões de violência.
Propostas para reduzir a violência
A partir dos dados obtidos, os pesquisadores apontam como solução para a redução do quadro de violência na periferia de Belém, além da efetivação de uma política de segurança pública, a promoção de cursos profissionalizantes nas áreas de informática, movelaria, mecânica, elétrica, hidráulica, panificação, agricultura urbana, preparo de alimentos, estética, artesanato, entre outros. Tais cursos vão ao encontro de manifestações propostas pelos próprios moradores nas entrevistas. "Trata-se de uma linha de trabalho que cria perspectivas sócioeconômicas, justamente para aqueles jovens que estão mais sujeitos aos riscos da violência", apontam os pesquisadores, que indicam como indispensável a criação e implantação de uma escola popular profissionalizante, que trabalharia em parceria com os centros comunitários mais atuantes.Outra solução teria um caráter mais assistencial: a implementação de um programa de cestas básicas regionalizadas, criando uma ponte de desenvolvimento entre campo e cidade, transformando as necessidades alimentícias das famílias de baixa renda das zonas urbanas em demanda para as cadeias produtivas do interior. O envolvimento de comunidades rurais organizadas em ação de geração de emprego e renda reduziria o fluxo migratório para Belém. Outras soluções são ainda apontadas, mas o importante, segundo os pesquisadores, é encarar a luta contra a violência como um problema geral. "A solução exige parcerias que envolvem as instituições públicas, a sociedade civil organizada e o setor privado.", finalizam.
Por Walter Pinto
Texto retirado do jornal Beira do Rio

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Belenenses sofrem com a chamada "cultura do barulho"

Em Belém (PA), apontada por uma pesquisa do IBGE como "capital brasileira do barulho" se criou uma "cultura do barulho" que, segundo Rejane Bastos, vice-presidente da Associação Amigos do Silêncio, explica o motivo de a capital ser considerada barulhenta por seus próprios moradores.
"Há caixas de som instaladas em postes, festas de aparelhagem --onde caixas acústicas enormes ganham as ruas. Aqui, barulho é sinônimo de poder", diz.




Segundo ela, há 30 pessoas que possuem esses aparelhos e que mapearam a cidade. "E tem gente que não tem dinheiro para comer, mas tem um som em casa. Até os bares disputam para ver quem faz mais barulho." Bastos conta que já teve um juiz que entrou atirando numa caixa de som porque não conseguia dormir. "Estamos à beira de uma guerra civil."

Para o advogado Jean Carlos Dias, presidente da Comissão de Combate à Poluição Sonora de OAB-PA, há três motivos para tanto barulho: o aspecto cultural, a falta de fiscalização e empresas lucrando ilicitamente com o alto som nas ruas.
Dias diz que o povo paraense é musical e sempre produziu ruído sem se preocupar com o vizinho. "O problema é que os exageros nunca foram coibidos", diz.
Ele também chama a atenção para as "festas de aparelhagem" --onde empresas cobram para fazer shows com caixas acústicas enormes a céu aberto. "É um trio elétrico sem o trio."
Para o advogado, no entanto, o motivo da poluição sonora e do descontentamento do povo é a falta de fiscalização. "O aparelho estatal ainda não está preparado para lidar com a situação. Belém cresceu muito, e não houve um acompanhamento por parte do órgão estadual", diz.
"Ainda não se botou na cabeça das autoridades que fazer barulho é crime", afirma Bastos.

Folha online