“Senhoras e senhores, sejam bem-vindos a Belém. Em instantes, pousaremos no Aeroporto Internacional Júlio Cezar Ribeiro de Souza”. Para que os passageiros ouçam essa mensagem no avião ao chegarem à capital paraense é preciso que um projeto de lei seja aprovado no Congresso Nacional. Mas, se isso acontecer, soará estranho para alguns que vão se perguntar: “Quem é esse Júlio César?”. 

O maior sonho de Júlio Cezar Ribeiro de Souza era ver Belém do alto. Isso no tempo em que botar os pés na capital da Amazônia era o sonho de muita gente. Ele é considerado o autor da primeira tentativa de desenvolver um projeto de balão dirigível no Brasil. A angústia de Júlio por não conseguir voar foi digna de um romance.
Júlio Cezar nasceu em 1847 e veio do município ribeirinho do Acará para estudar no Seminário do Carmo, em Belém. Percorreu o caminho que muitos jovens do interior da Amazônia fazem até hoje. Chegou de barco em um dos portos da capital, que começava a sentir os efeitos da era da borracha. Do seminário, partiu para a Escola Militar no Rio de Janeiro em 1862. Ele foi poeta, escritor, jornalista, professor, servidor público conceituado e soldado na guerra do Paraguai. Mesmo assim, queria voar mais alto - literalmente.
Em 1866, ao concluir o curso na Escola Militar no Rio de Janeiro, Júlio Cezar seguiu para Montevidéu, no Uruguai, onde integrou as forças militares brasileiras na Guerra do Paraguai. A situação, que parecia um pouso forçado na carreira do paraense, foi um marco para o resto de sua vida: foi durante a guerra, em 1867, que houve o primeiro uso militar de balões de observação na América d
o Sul.

Anos depois de transformar sua paixão pelos balões em teorias, Júlio Cezar publicou um trabalho sobre dirigibilidade aérea em 1880. Em 29 de julho do mesmo ano, começou a batalha para expor e provar as suas pesquisas. Solicitou audiência com representantes da então província do Pará e realizou experimentos com pequenos balões. Tentou inflar um maior ainda, porém o gasômetro da cidade não produziu gás suficiente para o experimento. Com isso, ele decidiu buscar patrocínios para alçar um novo vôo – desta vez, a França era seu destino.
Franceses plagiaram obra do inventor
Na cidade de Paris, em novembro de 1881, Júlio Cezar levantou o balão “Victoria” de dez metros de comprimento e dois de diâmetro. Após a experiência, o inventor foi aclamado pela imprensa parisiense e se tornou membro da Sociedade Francesa de Navegação Aérea. Depois, Júlio volta a Belém em busca de financiamento para as suas experiências e deixa uma encomenda na casa Lachambre: a construção de um grande dirigível que seria capaz de realizar o sonho de muitos homens – voar.
De volta ao Pará, no Natal de 1881, Júlio Cezar repetiu os experimentos com o balão “Victoria”. A imprensa de Belém ficou entusiasmada. Em 29 de março de 1882, o paraense foi mais uma vez ao Rio de Janeiro, onde apresentou o “Victoria” a um grande público na Escola Militar. Um dos espectadores era o imperador Dom Pedro II, que era fascinado por ciências e tecnologia e poderia ser o motor definitivo para o inventor cruzar o céu brasileiro. Após a conclusão da construção do grande dirigível, que se chamava Santa Maria de Belém, Júlio Cezar o trouxe para a capital paraense. Em 1884, tentou realizar o experimento na terra natal, no bairro da Cidade Velha, mas fracassou: ele não conseguiu encher o balão com os três milhões de litros de hidrogênio necessários para levantar o vôo.
Além do fracasso, ainda viu sua obra ser plagiada pelos irmãos franceses Charles Renard e Arthur Krebs. O vôo do “La France” foi realizado em 9 de agosto de 1884. Os dois foram apoiados por militares franceses que negligenciaram a patente reconhecida três anos antes, na própria França, em favor de Júlio Cezar. Indignado, o inventor paraense escreveu o artigo “A Direção dos Balões” divulgado pela imprensa paraense e encaminhado ao Instituto Politécnico Brasileiro. Foi assim que Júlio começou mais um vôo, dessa vez, em busca do reconhecimento perdido. Só que ele morreu em 1887, sem conseguir essa façanha, e ficou esquecido na História do Pará.
Primeiro projeto sobre o assunto é de 1959
Quem iniciou o levantamento sobre os projetos e a trajetória do inventor foi o pesquisador Fernando Medina do Amaral, já falecido, que estudou a vida de Júlio Cezar por 25 anos. O físico Luís Bassalo Crispino, professor doutor da Universidade Federal do Pará (UFPA), deu continuidade aos estudos de Fernando e lançou um livro sobre a vida do inventor em 2003. A partir disso, ele passou a divulgar a biografia de Júlio Cezar para estudantes, pesquisadores, veículos da imprensa e revistas científicas.
Segundo Crispino, a intenção parlamentar de batizar o Aeroporto Internacional de Belém de “Júlio Cezar Ribeiro de Souza” já existe desde 1959, quando o senador paraense Lobão da Silveira, que era jornalista, criou um projeto de lei (PL) com esse objetivo. A matéria foi arquivada no mesmo ano por motivos desconhecidos. Até hoje, o PL ainda pode ser visto na página do Senado Federal.
Só nos anos 80, Júlio Cezar foi homenageado com uma medalha comemorativa no governo de Alacid Nunes e um medalhão que está na praça da Bandeira, no bairro do Comércio. “Também houve a denominação do aeroporto de pequeno porte. Aí a coisa ficou meio difícil, porque como já existe um aeroporto com nome dele, o internacional não poderia ter”. De acordo com Crispino, a solução seria batizar o aeroporto pequeno de “Brigadeiro Protázio Lopes de Oliveira” e o maior de “Júlio Cezar Ribeiro de Souza”.
Foi o próprio Crispino que mandou a sugestão do projeto para a então senadora Ana Júlia Carepa. O PLS 326/2005 foi aprovado no Senado Federal e chegou à Câmara dos Deputados como PL 410/2007. Como manda o regimento da Casa, foi aprovado pela Comissão de Viação e Transportes e também pela Comissão de Educação e Cultura. Mas quando chegou à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), no dia 19 de março deste ano, foi retirado temporariamente de pauta. O motivo: na lista de projetos para serem aprovados havia um que pedia que o Aeroporto Internacional de Belém se chamasse Rômulo Maiorana, empresário pernambucano morto em 1986.
Fonte: Diário do Pará
Olá, Tiago! Parabéns pelo blog interessantíssimo. Sucesso e longevidade é o que eu desejo.
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Desde já, agradeço por sua atenção!!!